Trabalho há 17 anos com o problema da dependência química. Tenho algumas especializações na área e ajudei a formar, aqui no Rio Grande do Sul, uma das primeiras instituições em regime aberto para usuários, moradores de rua e jovens vindos da FASE. Foi uma magnífica experiência que teve o prazo de 8 anos. Também trabalhei em comunidade terapêutica, com jovens e adultos usuários de todos os tipos de drogas. Hoje, atendo em meu consultório e tenho a oportunidade de divulgar algumas informações através de palestras.
Sobre a liberação da maconha no Brasil, pelas características do nosso povo, ainda com aspectos juvenis de quem pouco ou nada entende da palavra 'limite', será um 'tiro no pé' na saúde pública brasileira. Tiro este que não poderemos retroceder. Uma vez liberada, tanto para diversão quanto para os aspectos medicinais, não teremos o controle para, lá na frente, caso cheguemos à conclusão de que não foi uma ideia acertada, que assuma novamente o posto de ilegal.
Penso que a intenção de sua reflexão é louvável. Em suas palavras: "a droga está corroendo o Brasil; precisamos discutir com mais coragem este tema". Mas, pensemos nas drogas já liberadas: o álcool e o cigarro. O fato de elas serem lícitas diminuiu o consumo? Jovens e adultos sabem melhor lidar com o cigarro e com o álcool pelo fato dele ser legal? Estamos socialmente mais harmonizados por termos o álcool e o cigarro em nossa convivência comunitária? Estamos nos transformando numa nação mais madura? Ou ao contrário disso: nunca tivemos tantas mortes oriundas do uso demasiado do álcool; dados assustadores de mortes provocadas pelo uso do tabaco.
Se, as drogas que já usamos livremente trazem algum tipo de alívio social, relaxamento e alegria, estaríamos precisando de mais uma delas, a maconha, para darmos conta das coisas da vida cotidiana no Brasil? Por qual razão a droga seria uma parte da solução da sociedade brasileira se, até agora, fez apenas parte do problema?
O povo brasileiro é diferente, caríssimo Senador. Não precisa de mais liberdade, mas, de mais maturação. Precisamos provocar a autoresponsabildade nos jovens e nos adultos. Já há espaço demasiado em nossa cultura para provar coisas novas e boas. Necessitamos degustar o antídoto disso, para que tenhamos o equilíbrio: escolas voltadas ao autoconhecimento, à natureza, à arte, à música e, em especial, à consciência de que cada um precisa encontrar em seu próprio interior, e não numa substância psicoativa, as soluções para a sua vida.
Quem sabe um dia esta ideia seja interessante: de que todas as drogas sejam liberadas, para que cada um tenha a liberdade de usá-las ou não. Mas, imagine o Senhor: teremos que ter alcançado um altíssimo nível de consciência sobre a vida, para de fato termos a lucidez da escolha.
Por enquanto, Senador Cristóvan, nós ainda temos um caminho para debater o tema educação e propor novas metodologias, a começar por uma revolução na formação dos Professores.
A liberdade saudável só pode ocorrer quando há estrutura suficiente para isso. Ainda não a temos: a árvore de copa grande e bela mas, sem raiz forte para sustenta-la, em ventos mais fortes, tomba.
Que bom que estas simples palavras possam chegar até o Senhor.
Muito agradecido.
Psicólogo Bauer Orcina Rodrigues - CRP 0709036
Muitíssimo bem colocado dentro da nossa e qualquer outra realidade no mundo de hoje. "Necessitamos degustar o antídoto disso, para que tenhamos o equilíbrio: escolas voltadas ao autoconhecimento, à natureza, à arte, à música e, em especial, à consciência de que cada um precisa encontrar em seu próprio interior, e não numa substância psicoativa, as soluções para a sua vida."
ResponderExcluirDe fato: "Se, as drogas que já usamos livremente trazem algum tipo de alívio social", precisamos de mais uma?
Eu tenho ouvido essa ideia de legalizar a maconha mais por parte dos adultos do que por parte dos jovens; esses querem experimentar, os "maduros" querem liberar geral. Por que? Porque chegaram a um ponto em que "precisam" dela? Pois então tenho uma sugestão: liberar a droga para essa terceira idade de opinião formada a favor da legalidade da maconha. Afinal, droga é como remédio: remedia, não cura. Na terceira idade, a pessoa teve a chance de buscar as próprias soluções de vida, já tem referências de sua real potencialidade ou reais limitações. Se então uma vida precisa" ser remediada e a pessoa não for conviver em família ou socialmente, não for dirigir ou andar armada, nem votar... que se drogue, droga!!
Agradeço a tua participação Sus. Que quiser deixar o seu email para futuros contatos fique à vontade. Precisamos aprofundar a questão social e, em especial, as soluções. Os 17 anos de experiência na área da dependência química me fortalecem a opinião de que a liberação da maconha não trará os benefícios sociais pretendidos.
ResponderExcluir"Aprofundar a questão social", com certeza. Não podemos fechar a questão, nunca. O mundo é dos vivos, nós estamos aqui vivos por um tempo. Todas medidas devem ser dinâmicas, renováveis para que reflitam a realidade e a propriedade daqueles que vivem essa realidade. Ouço várias possibilidades para a legitimidade da maconha. Existem muitos contextos, como inibir o tráfico, muitas possibilidades entre o sim e o não da questão. É interessante ouvir a todos, embora continuo com o não. Lembro sempre da escravidão às drogas e àqueles que a monopolizam. Legalizar a maconha hoje, em tempos tão turbulentos, serviria mais pra anestesiar e escravizar mentes, rebaixar as necessidades e desejos humanos, senão reduzir a superpopulação, agendas que negariam as vidas e soluções de vida que essas mentes têm a oferecer ao mundo. Lembrando que um problema não deixa de existir porque se tem uma solução para o mesmo, sugiro viver na solução, e não vejo a droga como uma. Nem a legalizada, nem outra.
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